HOMENAGEM AO AMIGO
Postado em 12 de fevereiro de 2010 às 0:24 por Domingos Rodrigues Alves
A morte de um amigo de longos anos, com quem já sorrimos e choramos, jejuamos e banqueteamos, concordamos e discordamos é uma realidade difícil de aceitar.
É muito fácil escrever sobre ele. Mil imagens vêm à cabeça. Certo dia, eu estava fazendo uma brincadeira com seu nome e ele saiu com essa:
- Não tenho apenas um nome, tenho uma expressão idiomática do Inglês: Allison é na verdade “All-is-on” (tudo em cima).
Amava a música ao ponto de dizer que, em sua memória póstuma, gostaria que fosse escrito em uma placa:
– Aqui JAZ Allison.
Viveu intensamente: menino engraxate, vendedor de sorvete, amante da música, amante de Deus, carioca cheio de bossa, cílios grandes e olhos tão expressivos, prontos a saltar da caixa ante uma brilhante ideia. Ideia era o que não lhe faltava. Para ele, era até comum fazer música enquanto alguém pregava. Ao final da mensagem…havia música nova no mundo. Enxergava poesia em tudo, até na água gelada do banho das primeiras horas da manhã. Certa vez, ao receber o jato gelado, disse: “Por que és Senhor, água vira cachoeira”
Estar em seu funeral foi uma experiência difícil. Muito difícil ver a esposa que, insistente, a seu lado, beijava-lhe a face e lavava seu rosto em lágrimas, a mãe sofrida que lhe acariciava o rosto – deveria ser proibido uma mãe sepultar sua cria. Os filhos em redor. O mais velho, em um gesto de coragem, inspirado pelo grande amor a seu pai, tomou o violão em suas mãos e conduziu todos a fazer o que seu pai mais amava: louvar. O repertório? As canções do próprio Allison. Em minha mente, várias lembranças de vários anos. Os irmãos, em derredor, faziam um coral de vozes que comovia e ao mesmo tempo trazia fé e esperança. Cantaram como só aquela família sabe – meu Deus, e como sabem!
Ao final da cerimônia, cortinas desceram elegante e lentamente, dividindo o espaço em que ele estava da capela onde nós nos encontrávamos. O símbolo selava o fato de que estávamos irremediavelmente diante da morte, separados por uma frágil, porém imutável cortina. Todavia, nossa fé e nossa esperança nos dizem que tal falecimento é ilusão, pois ele está mais vivo do que nunca. Vivo com Deus e vivo em nossas lembranças.
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
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